terça-feira, 28 de agosto de 2007

“Tudo na mesma como a lesma”

Os minutos estavam a ser observados bem de perto, na esperança de que passassem sem serem sentidos, de forma desesperada e atenta, resultado da ausência de ocupação. Apesar do tempo ter a mesma dimensão para todos os que estão, inevitavelmente, expostos a ele, para ela parecia não haver movimentação dos dígitos observados pelo canto inferior direito do monitor do seu computador.
Um sentimento de inutilidade apoderava-se do seu estado de espirito cada vez mais fragilizado ao aperceber-se da sua real situação.
Para além do início da semana ser complicada para toda a classe trabalhadora, este dia, ou melhor esta manhã, mostrou não ter fim. Estava a aproximar-se a hora de almoço e mesmo não estando com um daqueles apetites normais para o avançar da hora, o seu desejo era para que batesse rapidamente as 13 horas.
Parecia cada vez mais complicado o seu corpo e mente se habituarem ao ritmo de trabalho que lhe esperava todos os dias por volta das 9:30 e, com fim previsto para as 18 horas.
Sentia dia a dia que o seu cérebro estava a encolher, quando pensava nisso podia até sentir, ao de leve, a impressão dentro da cabeça. Completamente inquieta investiu várias tentativas num livro guardado na gaveta do seu, temporário, gabinete.
Excepcionalmente hoje, e para agravar ainda mais a sua situação de desespero, a ligação à rede estava com problemas o que lhe impossibilitava aceder ao mundo virtual, normalmente acessível ao alcance de um clique.
O telefone toca com pouca frequência e as questões do outro lado da linha são agora fáceis de responder, resultado da permanência naquele local há pouco mais de 5 meses.
Toda aquela situação fazia-la sentir-se inútil, ou melhor e para não ser demasiado pessimista, pouco útil.
Ali estava ela de olhos postos no seu monitor, do qual sabia já onde encontrar dedadas, resistentes ás investidas das senhoras da limpezas que por lá passavam todos os dias.
De forma diagonal passou os olhos pela sala que lhe fizera companhia nos momentos de solidão, cansada de ver exactamente o mesmo dos outros dias. Os montes de papel estavam ainda no mesmo local, as cadeiras regressaram após uns dias num Spa para fazer limpeza de pele e o soalho parecia queixar-se, como sempre, de cada vez que me levanto para aumentar o som ou desligar e ligar o Ar condicionado.
Resumindo, em suma, em género de conclusão, “tudo na mesma como a lesma”.

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